Quem nunca escutou a afirmação “no BIM, o quantitativo sai automaticamente”? Essa expressão é usada de maneira inocente – ou equivocada – por profissionais desse novo universo, explicando de maneira superficial toda a estrutura necessária para realizar projeções de custos realistas, a partir de construções virtuais.

A grande questão é: você confia nos quantitativos dos seus projetos?

Esse questionamento é fundamental para entender como os dados são criados, e depois transformados em informação para contratação de serviços e compra de materiais. Se não houver um processo de verificação antes de usar os modelos, talvez as quantidades não sejam realistas, reduzindo assim a confiabilidade nas informações.

Imagine um cenário real no qual sobram materiais na obra. Quais são as possíveis causas?

Aqui algumas reflexões:

  1. Os projetos BIM estão de acordo com a obra?
  2. Ao repassar para o Excel, houve algum erro?
  3. Não foram bem definidos os espaços para aplicação do revestimento?
  4. Falha na somatória dentro dos softwares?

Existem parcerias criando sistemas de gestão BIM (desde a contratação até o uso em orçamento, planejamento e obra) em empresas de todo Brasil. Junto a isso, aplicamos essa gestão em empreendimentos, coordenando o desenvolvimento dos projetos e fornecendo dados realistas de custos e prazos.  

Com uma experiência inicial de 250.000 m², percebemos que na maioria dos casos, as opções A, B e C são as principais responsáveis nos desvios de custos por quantitativos de projetos. 

Qualidade das informações dos modelos BIM

Em um exemplo prático, pensem em um modelo de arquitetura executivo com a parede construída da base laje até o topo do pavimento superior. Na obra, os fechamentos são “recortando” a estrutura, e isso gera uma diferença considerável no quanto de cerâmica você estaria quantificando para compra.

Outra situação, referente aos padrões construtivos. Digamos que sua construtora faça impermeabilização dos banheiros com argamassa polimérica, com saia de 30 cm e altura de 150 cm no box. Essa informação foi passada ao arquiteto e está no modelo BIM?

Esses exemplos deixam claro a necessidade da validação de qualidade da informação dos modelos BIM, para garantir informações que realmente podem ser utilizadas em etapas posteriores.

Quais são algumas consequências de quantitativos errados no orçamento?

  • Dificuldade nas medições de serviços na obra;
  • Previsões de custos fora da realidade;
  • Tempo do responsável levantando manualmente.

A dor de cabeça vai ficar para a obra!

Na aplicação da metodologia BIM no mercado, tudo gira em torno do porquê aquele modelo será criado. Se o objetivo for orçamento, o modelo BIM precisa carregar uma quantidade maior de informações, se comparado a apenas uma coordenação 3D. Mas por que isso?

Bom, cada empresa tem suas características e, se estamos lidando com construções virtuais, isso precisa ser repassado aos projetistas desde a etapa inicial de desenvolvimento. Então imagine a seguinte situação:

Se você organiza sua EAP com a seguinte hierarquia: Alvenaria > Térreo > Marcação > Bloco de 14 cm em metro linear, e executa este tipo de bloco nas fachadas (que tem a execução por plano), essa informação precisa ser inserida dentro do modelo BIM.

Se o objetivo for orçamento, o modelo BIM precisa carregar uma quantidade maior de informações

E isso se aplica a praticamente todas as atividades do seu orçamento. Claro, algumas situações usamos associação e outras técnicas, porém é uma quantidade considerável de horas para conseguir vincular tais dados.

Então, a contratante deve saber o que pedir, fugindo de denominações genéricas como “LOD” e partindo para base de dados categorizados. Isso deve sempre ser vinculado em contato com os fornecedores, através de um Plano de Projeto (PEB), para que ambas as partes entendam a importância do acordado.

Com isso definido, agora precisamos avaliar se os modelos foram construídos como foi solicitado. Primeiramente, deve-se segmentar o lançamento dos projetos para que as verificações sejam feitas em ciclos, evitando retrabalho para todas as partes.

O que verificar nos modelos BIM

Aqui vão alguns exemplos do que verificar, para garantir a qualidade das informações:

  • Os elementos estão associados aos pavimentos certos?
  • Não tenho elementos duplicados?
  • Foi inserida a informação de ambientes nos revestimentos? (se você controla por apartamento)
  • A impermeabilização está com a altura certa no terraço?

Existem inúmeras ferramentas no mercado que realizam essas verificações, destacando as que usamos aqui na Otus Engenharia, o Navisworks e o Solibri. Avaliamos tanto questões técnicas quanto de qualidade. É possível criar filtros para fácil visualização, verificar parâmetros dentro dos elementos e vincular os elementos às estruturas de quantificação.

Com o modelo validado, partimos para a etapa de uso da informação. Falando especificamente de orçamento 5D, hoje existem várias maneiras de fazer isso, não tendo a “maneira certa”, mas sim processos que mais fazem sentido para o empreendimento em si, e a empresa.

De modo geral, existem 3 maneiras de realizar simulações de orçamento integradas à ERP’s:

  • Software BIM 5D
  • Importação/Exportação de planilhas de softwares de quantificação BIM
  • Plugins em software de modelagem

Já testamos as 3, porém hoje vamos falar aqui de 2 opções que já testamos e avaliamos sua eficácia. Veja quais são:

1. Plugin diretamente na ferramenta de modelagem

A primeira é através de um plugin diretamente na ferramenta de modelagem. Ainda em fase de desenvolvimento, o plugin do Sienge para o Revit, permite uma associação direta dos elementos aos serviços na EAP. Facilitando muito análises de custos a partir de alterações de projeto.

O vínculo direto pela interface do software de modelagem facilita por questões visuais, permitindo validações quanto aos elementos selecionados. Esse processo faz sentido para alguns empreendimentos e fases de projeto. Esse modelo tem muito potencial se evoluir para os softwares de gestão BIM, por permitirem uma análise mais completa de projetos complexos.

2. Importação de tabelas de quantitativos

A segunda maneira é através da importação de tabelas de quantitativos exportadas diretamente do software de gestão BIM.

Fazendo a importação da estrutura de orçamento para dentro do software BIM, torna-se possível associar os elementos aos serviços. Para agilizar o processo, criamos regras de seleção que nos permitem selecionar automaticamente determinados elementos, de acordo com um parâmetro determinado.

Essa estratégia, combinada com padrões bem estabelecidos, permite um ganho de produtividade nos próximos projetos.

Ao final da associação, exportamos os quantitativos em formato de dados (“.csv”, “.xls”) e associados, através de fórmulas simples no Excel com as funções “ÍNDICE” e “CORRESP”, permitindo que todos os serviços do orçamento tenham um quantitativo associado. 

Com isso preparado, basta importar a planilha de volta para o Sienge, e avaliar os custos referentes a esse projeto. Vale ressaltar que, assim, as alterações de projeto refletem praticamente automaticamente nos valores de custos, permitindo inúmeras simulações em poucos instantes.

Conclusão

De modo geral, o mais importante não é o método e/ou a ferramenta escolhida, mas se as informações dos modelos BIM são confiáveis e adequadas a empresa. Independente do “como” isso será realizado, é essencial estabelecer um processo padrão de desenvolvimento, que permita ter controle e simular diversas alternativas, para garantir a viabilidade do investimento.

Autoria: Arthur Feitosa Oliveira

Parceria: Sienge Plataforma